O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) agendou para o dia 29 de setembro o julgamento do recurso apresentado pela defesa dos réus no caso que investiga a morte de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido. A sessão será presencial, no edifício Desembargador Arnoldo Péres, sede do TJAM, em Manaus.
O recurso será relatado pela desembargadora Luiza Cristina Nascimento da Costa Marques, e os advogados dos apelantes terão direito à sustentação oral durante o julgamento. O Ministério Público do Amazonas (MPAM) reconheceu uma falha no andamento do processo e solicitou o retorno dos autos à primeira instância.
De acordo com o MP, houve cerceamento de defesa, pois os advogados não foram notificados da juntada dos laudos periciais antes da sentença, o que viola o devido processo legal. Por esse motivo, o Ministério Público pediu a anulação parcial dos atos processuais, com o retorno do processo à fase anterior à sentença.
Apesar do reconhecimento da falha, o MP defende que o conjunto de provas contra os acusados é robusto incluindo mensagens de celular e depoimentos — que demonstram a existência de uma organização criminosa estável dedicada ao tráfico de drogas. Se o pedido de anulação for negado, o MP requer a manutenção das condenações.
Entenda o caso Djidja Cardoso
A ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, foi encontrada morta em casa no dia 28 de maio de 2024, em Manaus. O laudo preliminar apontou edema cerebral como causa da morte, possivelmente relacionado ao uso da droga cetamina, substância sintética usada indevidamente em rituais promovidos pela família da vítima.
A investigação policial revelou que a família liderava um grupo religioso intitulado “Pai, Mãe, Vida”, que associava o uso da droga a práticas espirituais. O grupo promovia rituais com uso forçado de cetamina, e os investigados são acusados de envolvimento em crimes como tráfico de drogas, associação para o tráfico, charlatanismo, curandeirismo, e até violência sexual.
Sete pessoas foram condenadas em primeira instância pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico, com penas de quase 11 anos de reclusão. Veja os nomes e penas:
Cleusimar Cardoso Rodrigues (mãe de Djidja): 10 anos, 11 meses e 8 dias
Ademar Farias Cardoso Neto (irmão de Djidja): 10 anos, 11 meses e 8 dias
José Máximo Silva de Oliveira (dono de clínica veterinária): 10 anos, 11 meses e 8 dias
Sávio Soares Pereira (sócio da clínica): 10 anos, 11 meses e 8 dias
Hatus Moraes Silveira (coach da família): 10 anos, 11 meses e 8 dias
Verônica da Costa Seixas (gerente dos salões): 10 anos, 11 meses e 8 dias
Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja): 10 anos, 11 meses e 8 dias
Dentre eles, apenas Verônica e Bruno respondem em liberdade provisória. Os demais cumprem pena em regime fechado.
Três acusados foram absolvidos por falta de provas:
Emicley Araujo Freitas Júnior
Claudiele Santos da Silva
Marlisson Vasconcelos Dantas
Outras investigações continuam
A sentença atual trata exclusivamente de crimes relacionados ao tráfico de drogas. Os demais crimes — como estupro, curandeirismo, manipulação de medicamentos e aborto — estão sendo investigados separadamente e serão encaminhados às varas competentes.
Detalhes dos rituais e do grupo religioso
Segundo a polícia, o grupo acreditava em uma suposta missão espiritual, onde Ademar seria Jesus Cristo, Cleusimar representaria Maria, e Djidja seria Maria Madalena. Os rituais envolviam o uso indiscriminado de cetamina, com a justificativa de “elevação espiritual”.
A droga teria sido introduzida por Ademar após uma viagem a Londres, onde buscava tratamento para dependência química. De volta ao Brasil, ele se tornou a figura central do grupo e passou a se apresentar como “guru espiritual” nas redes sociais.
Durante as buscas, a polícia encontrou seringas, frascos, cartelas de remédio e bulas nas dependências da casa da família e nos salões de beleza onde os rituais eram realizados.
O Instituto Médico Legal (IML) apontou que a causa da morte de Djidja foi um edema cerebral, que comprometeu o funcionamento do coração e dos pulmões. A principal suspeita é que o quadro tenha sido provocado por uma overdose de cetamina. Frascos da substância foram encontrados enterrados no quintal da residência, além de seringas e outros materiais que indicam o uso recente do anestésico.
O julgamento do recurso no dia 29 de setembro poderá redefinir os rumos do processo e abrir espaço para uma nova análise dos fatos em primeira instância, caso o pedido do MP seja acolhido.
Foto: divulgação